Enquanto campanhas do Maio Amarelo reforçam a importância da prudência nas ruas, uma discussão urgente permanece à margem: a realidade de quem vive do trânsito. Trabalhadores de aplicativo, que são protagonistas da mobilidade nas grandes cidades, convivem diariamente com um tripé desafiador: alta carga de trabalho, insegurança constante e um modelo de remuneração que, embora promissor à primeira vista, esconde custos que corroem grande parte dos ganhos.
Um levantamento da fintech GigU, anteriormente conhecido como StopClub, que analisou dados de profissionais da área, mostra que, em São Paulo, o rendimento bruto mensal de um condutor gira em torno de R$7.714,29. No entanto, após deduzir despesas com combustível, manutenção veicular, taxas e tributos, o valor líquido cai para cerca de R$3.261,90. Para alcançar esse resultado, os motoristas costumam dedicar, em média, 60 horas por semana ao volante.
Nas demais capitais, o cenário é semelhante: no Rio de Janeiro, por exemplo, o lucro líquido médio é de R$3.542,14, com um faturamento bruto de R$7.714,29 e carga horária de 54 horas semanais. Em regiões como Manaus, os ganhos líquidos despencam para R$1.854,77, revelando desigualdades regionais e os limites da flexibilidade no setor. Esses números evidenciam que, apesar de parecerem elevados, os rendimentos brutos escondem uma realidade financeira instável e, muitas vezes, insustentável.
A essa equação econômica se soma um fator ainda mais crítico: a exposição ao perigo. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, mais de 73 mil acidentes foram registrados nas estradas federais brasileiras em 2024, resultando em mais de 6 mil mortes. Em São Paulo, o trânsito urbano registrou mais de 5.500 vítimas fatais no mesmo período, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. Assaltos, tentativas de sequestro e abordagens violentas como falsas blitzes completam o cenário de vulnerabilidade enfrentado por quem trabalha nas ruas.
“Nosso levantamento revela que é possível ter uma boa receita bruta como motorista de app, mas é essencial compreender o custo envolvido nessa operação. A rentabilidade depende de planejamento, do controle das despesas e do uso inteligente do tempo de trabalho”, afirma o CEO e co-fundador da plataforma, Luiz Gustavo Neves. Para ele, o Maio Amarelo deve ser também um convite à reflexão sobre quem movimenta o trânsito todos os dias. Se segurança viária é um compromisso coletivo, é preciso garantir também condições dignas para quem tem no asfalto sua principal fonte de sustento.