A 4ª edição do Fórum Nacional de Segurança Rodoviária reuniu as principais empresas de transporte e logística em São Paulo, para apresentar um panorama do setor, listando desafios e oportunidades, além de ressaltar boas práticas e divulgar tendências.
O evento, que voltou ao modelo presencial em 2022 após dois anos, é feito pela Trimble, companhia global de tecnologia, em parceria com a Raízen, empresa integrada, referência global em bioenergia e licenciada da marca Shell no Brasil. O Fórum foi realizado no dia 27 de setembro no WTC Events Center, na capital paulista.
Um dos principais pontos abordados por especialistas brasileiros e internacionais no evento é a importância da atualização no modo de administrar as frotas, com a adoção de tecnologias que permitam um acompanhamento preciso, com diversos indicadores, como a telemetria veicular e sensor de fadiga para os motoristas.
“Hoje temos vídeo interligado com a telemetria. Com isso, conseguimos detectar fadiga, distração, uso de celular, se o motorista está usando cinto ou não, com a identificação facial. Além da notificação ao motorista e à empresa, condensamos as ocorrências e os gestores conseguem prever os riscos e tomar as melhores ações para evitar maiores problemas”, explicou Dalton Swain Conselvan, Diretor da Trimble Transportation na América Latina, durante o evento.
Outro ponto ressaltado por diversos palestrantes foi a importância das tomadas de decisões baseadas em dados, gerados com a tecnologia de monitoramento, que permitem maior precisão e eficiência na gestão. Com isso, as empresas conseguem aliar a eficiência financeira, gerada com a economia de recursos, e proporcionar maior qualidade para o trabalho dos motoristas, investindo em capital humano.
“O objetivo é sermos cada vez mais preditivos e tomarmos decisões com base em dados. Criamos o CCO [Centro de Controle de Operações] com o foco de evitar acidentes e ajudar o nosso parceiro, o transportador. Com isso, temos hoje no CCO a capacidade de saber da velocidade na chuva ou em pista seca, sinais de fadiga, freadas bruscas, entre uma infinidade de dados que nos permite saber just in time como anda a operação e sermos um agente de mudança. Temos o desafio de melhorar, ter menos acidentes, e também ajudar de alguma forma a termos estradas mais seguras”, disse Rafael Alvarez, diretor de Logística da Raízen.
Diversidade, ESG e escassez de motoristas
A palestrante Ellen Voie, fundadora da Women in Trucking Association (Associação das Mulheres em Caminhões), mostrou números sobre como o mercado nos Estados Unidos viu crescer a participação feminina nas últimas décadas, traçando um perfil das profissionais que dirigem caminhões.
“Um estudo feito com 4 mil profissionais constatou que as motoristas adotam comportamentos mais seguros do que eles e que motoristas homens são 20% mais suscetíveis a se envolverem em acidentes do que mulheres”, disse Ellen, que é referência mundial para falar da atuação feminina em carreiras não-convencionais no transporte.
A mesa-redonda mediada por Juliana Nicoleti, head da área de Segurança no Transporte Rodoviário de Combustíveis, Açúcar e Lubrificantes na Raízen, que teve participação de Patrícia Chieppe, CEO da Vix Logística, Ana Carolina Jarrouge, presidente executiva do Setcesp, e Fernanda Sarreta, VP administrativa da IC Transportes, apresentou um panorama da atuação feminina no Brasil.
Embora sejam maioria em cargos administrativos em logística, as mulheres são minoria entre os motoristas de caminhões e entre as altas lideranças na área. No país, só 2% das CNHs emitidas para condução de veículos pesados são de mulheres. Já nos cargos de alto escalão, elas são 12%, segundo dados do Setcesp. O painel ressaltou que é preciso estímulo para incentivar que o mercado seja mais diverso.
Diferentes mesas redondas e palestras abordaram aspectos de ESG (Environmental, Social and Governance; a sigla, em tradução para o português, abrange a atuação das empresas nas áreas de Governança Ambiental, Social e Corporativa).
Na palestra sobre erros que custam milhões às empresas, o engenheiro Frederico Rodrigues exemplificou como o investimento de base pode poupar dinheiro a longo prazo. “É preciso visualizar que é necessário focar em reduzir não só as fatalidades, mas também o número de sinistros. Uma simples colisão em guard-rail abre possibilidades para muitas outras coisas, como saque de carga, dano em outros componentes ou mesmo ambiental”, exemplificou Rodrigues durante a palestra.
Henk Stipdonk, diretor do Instituto Holandês de Análise da Política de Transportes, deu uma aula sobre boas práticas em gestão de trânsito, listando pontos de atenção para evitar acidentes, como o isolamento de pedestres em vias com alta velocidade e uma sinalização que direcione pessoas em veículos ou não a perceberem o ambiente antes de tomar ações cotidianas. O especialista ressaltou a importância do conceito sueco de segurança viária chamado de Visão Zero, que tem como base que nenhuma vida perdida no trânsito é aceitável.
O evento também teve reflexões voltadas às situações que os gestores na área encontram no dia a dia, como a escassez de motoristas – uma vez que o mercado brasileiro viu a idade média dos profissionais saltar de 36 para 46 anos. Gestores ressaltaram a importância de proporcionar um bom ambiente de trabalho aos motoristas e também em criar iniciativas para estimular o interesse em novas gerações.
A Volvo e o Observatório Nacional de Segurança Viária também participaram do evento.
Foto: Divulgação Trimble