Maior plataforma brasileira de intermediação de viagens de ônibus, a startup Buser acaba de concluir uma nova rodada de investimentos no valor de R$ 700 milhões. A operação foi liderada pelo fundo de growth equity com foco em impacto social LGT Lightrock (ex-LGT Lightstone) e também contou com a participação dos fundos Softbank, Monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures e Canary, todos investidores da Buser nas séries anteriores, além do Iporanga Ventures.
Com a nova captação, a empresa mostra vigor ao anunciar um plano de investimento de R$ 1 bilhão no País para os próximos dois anos, focando na diversificação dos serviços e apostando no reaquecimento do mercado de turismo interno no pós-pandemia. A expectativa é crescer 10 vezes até o final de 2022.
Fundada em 2017 pelos mineiros Marcelo Abritta e Marcelo Vasconcellos, a Buser se desenvolveu rapidamente com o fretamento colaborativo, modalidade na qual os passageiros dividem a conta final do frete. Isso permite que as viagens sejam até 60% mais baratas que as realizadas pelas antigas viações. Prestes a completar quatro anos de operação, a empresa já conta com quase 4 milhões de clientes em sua plataforma.
Superadas as principais questões regulatórias de sua operação por fretamento, agora a Buser passa a focar na ampliação de seu portfólio de serviços, entrando em quatro novos segmentos: marketplace em parceria com grandes viações, transporte de cargas, financiamento de ônibus e transporte urbano.
“Com o novo aporte, vamos continuar crescendo em número de passageiros, viagens e parceiros e nos preparando para a retomada do turismo, que vai chegar. O foco também será diversificar o negócio, que tem um potencial gigante para ajudar os brasileiros em várias outras frentes, como o transporte urbano de passageiros, um setor que é ainda mais fechado do que o interestadual e intermunicipal”, afirma Marcelo Abritta, co-fundador e CEO da Buser.
Líder dessa nova rodada de investimentos série C, a LGT Lightrock já ajudou a alavancar startups brasileiras que revolucionaram seus mercados, como a CargoX, a Creditas e o Dr. Consulta. O fundo é conhecido por sua presença em negócios que buscam resolver grandes problemas estruturais da sociedade, sempre aplicando em inovação para uma mudança sistêmica em larga escala. No caso da Buser, a LGT enxerga oportunidade para efetivamente melhorar o serviço de transporte rodoviário no País combatendo a concentração do mercado, que por décadas esteve sob domínio de poucos grupos empresariais avessos à inovação tecnológica.
Para Marcos Wilson Pereira, Managing Partner da LGT Lightrock, investir na Buser é apostar no futuro dos transportes. “Há uma clara tendência mundial na abertura de mercado com a entrada de novos players, o que tem contribuído para reduzir os preços e melhorar a segurança dos passageiros. E a Buser saiu na frente no Brasil, com quase 4 milhões de usuários em sua plataforma”, afirma Marcos.
Desde 2017, a LGT já investiu quase R$ 2 bilhões em nove empresas na América Latina. Esses deals foram parte de um primeiro fundo global da Companhia de US$ 1 bilhão, incluindo também Índia e Europa.
Agora, a LGT está levantando seu segundo fundo, com foco na América Latina. A própria LGT e seus sócios serão os investidores-âncora, mas pela primeira vez haverá abertura para a captação de investidores locais. O objetivo é levantar um fundo de R$ 1 bilhão para co-investir com outros veículos do grupo. Ativos como Creditas e Buser serão os primeiros seed assets desse novo fundo.
“Estamos muito animados em poder ampliar nosso compromisso com a Buser e ajudar na missão de oferecer transporte de qualidade a preços justos para todos os brasileiros. A oportunidade de mercado é enorme e a Buser está revolucionando um setor ao levar benefícios reais aos clientes”, afirma Felipe Fujiwara, do SoftBank Latin America Fund, investidor que já tinha participado de outras rodadas e continua apostando na empresa. “É incrível a capacidade de execução da Buser, eles têm uma visão muito clara de como democratizar o acesso ao transporte em toda a região. Esperamos continuar contribuindo com a startup, ainda mais nesse momento em que eles buscam diversificar e expandir o negócio”, completa o executivo.
Diversificar para continuar crescendo
Ainda no final de 2020 a Buser agregou à sua plataforma a oferta de viagens de ônibus em parceria com viações que operam nas rodoviárias, tornando-se também um marketplace. Em menos de seis meses, o Buser Passagens, como foi batizado, atingiu a marca de 3.000 passageiros transportados por semana, com 40 empresas parceiras.
A empresa também começou em maio deste ano a operar em um novo segmento: o de transporte de cargas dentro dos ônibus. O Buser Encomendas é voltado para empresas (B2B), atendendo plataformas e integradoras logísticas, e-commerce, indústrias e pequenas transportadoras. O objetivo é atrair pequenas e médias empresas que não têm transporte próprio, ao mesmo tempo que otimiza a capacidade dos bagageiros de ônibus que circulam no Brasil.
Outra atividade que já era realizada em caráter experimental pela Buser terá um crescimento vigoroso. A startup irá ampliar o financiamento de ônibus junto às empresas parceiras, tanto em capital de giro quanto em compra de veículos novos.
A Buser irá utilizar o capital obtido nesta série C prioritariamente para ações de expansão de suas atividades e para a segurança dos usuários. Do investimento previsto pela empresa (R$ 1 bi) nos próximos dois anos, cerca de R$ 400 milhões devem ser usados para o processo de expansão em todo o País; R$ 200 milhões serão destinados ao financiamento de ônibus junto aos parceiros da Buser; outros R$ 200 milhões irão para ações de marketing para atrair novos usuários; já para a parte de gratuidades e promoções, em busca da fidelização dos clientes, devem ser usados cerca de R$ 150 milhões; e cerca de R$ 50 milhões para a estrutura de pontos de embarque e desembarque.
Consolidação do fretamento
A Buser tem comemorado sucessivas vitórias no campo jurídico e regulatório, o que denota que o mercado do transporte coletivo segue o mesmo caminho já percorrido no transporte individual, quando da chegada de aplicativos como Uber e 99. Em abril deste ano a entidade que reúne as viações que operam nas rodoviárias protocolou pedido de desistência de uma ação que ela própria havia proposto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a plataforma, refletindo uma importante mudança de cenário do mercado. Outro exemplo foi a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, de dezembro do ano passado, que deu forte sustentação legal para a atividade da Buser ao julgar improcedente ação contrária à startup.
Mas não é apenas nos tribunais que o modelo de fretamento colaborativo vem se firmando. Em janeiro deste ano, o estado de Minas Gerais, que possui a segunda maior malha viária do país, foi o primeiro a modernizar completamente sua legislação, em um movimento que gerou muito mais competição, ao permitir a atuação livre da Buser e dos fretadores. Considerando que 66% das linhas de ônibus no Brasil hoje são operadas por apenas uma empresa, essa abertura não só é importante, mas urgente, pois é o único caminho para acabar com a concentração de mercado.
Além de beneficiar os consumidores, o fretamento colaborativo também gera uma contribuição importante para a nossa economia. O setor reúne hoje no Brasil uma cadeia produtiva relevante e positiva, responsável pela geração de 180 mil empregos diretos e indiretos, movimentando mais de 50 mil ônibus.
“Nascemos para democratizar o acesso dos brasileiros ao transporte rodoviário no Brasil e de fato estamos fazendo isso acontecer, levando uma opção de viagem muito mais barata e segura aos brasileiros. O novo round vai permitir que a gente continue promovendo essa revolução. As batalhas regulatórias até aqui não foram fáceis, mas estamos superando a maior parte delas, o que tem ajudado a plataforma a ganhar cada vez mais maturidade e tração”, complementa Abritta.
A busca pela modernização do setor e a democratização do transporte rodoviário, com ônibus mais seguros e preços que de fato permitem o ingresso de mais passageiros ao sistema, também já aconteceu em economias mais desenvolvidas, como Alemanha, França e Itália - que abriram o setor entre 2013 e 2015 -, melhorando claramente a vida dos usuários.