O número de brasileiros que têm nas plataformas digitais sua principal fonte de renda atingiu um novo patamar histórico. Em 2024, cerca de 1,7 milhão de pessoas atuavam em aplicativos de transporte, entregas, serviços e táxi, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O crescimento é expressivo: em apenas dois anos, o contingente saltou de 1,3 milhão em 2022, um acréscimo de 335 mil trabalhadores.
A dimensão do grupo impressiona. Hoje, o total de profissionais “plataformizados” já supera a população de capitais inteiras, como Recife (1,6 milhão), Goiânia (1,5 milhão), Belém (1,4 milhão) ou Porto Alegre (1,4 milhão). A comparação ilustra o tamanho de um fenômeno que se consolidou como uma das principais transformações do mercado de trabalho brasileiro.
A pesquisa classifica a gig economy em quatro grandes frentes: transporte particular de passageiros (como Uber e 99), entrega de comida ou produtos (iFood, Rappi), prestação de serviços gerais ou profissionais (GetNinjas, Workana, 99Freelas) e táxi. Entre elas, o transporte particular de passageiros representa a maior fatia — 878 mil pessoas, mais da metade do total, um aumento de 29,2% em relação a 2022. Em seguida aparecem os entregadores (485 mil), os prestadores de serviços (294 mil) e os taxistas (228 mil).
Os ganhos desses profissionais variam amplamente e dependem da intensidade da jornada. De acordo com levantamento do GigU, um motorista de aplicativo que trabalha entre 50 e 60 horas semanais pode faturar entre R$ 77 mil e R$ 103 mil por ano. No entanto, os custos operacionais — como combustível, manutenção, seguro e impostos — reduzem significativamente a renda líquida. O lucro efetivo anual fica entre R$ 28 mil e R$ 51 mil, dependendo da cidade.
“A transformação do mercado de trabalho pelo avanço das plataformas digitais evidencia uma tendência global: a economia digital não apenas cria novos empregos, mas redefine o próprio conceito de trabalho. Para o Brasil, o desafio será aproveitar esse potencial integrando inovação, inclusão e sustentabilidade social. O crescimento dos apps mostra que é possível gerar ocupação e estimular o consumo de forma simultânea, mas é fundamental conduzir essa revolução de forma estruturada, garantindo que os benefícios alcancem trabalhadores e consumidores”, afirma Luiz Gustavo Neves, CEO e co-fundador da fintech.
O avanço dos trabalhadores de plataformas revela tanto a flexibilidade e o apelo de autonomia que o modelo oferece quanto a vulnerabilidade estrutural que ainda o caracteriza. Com crescimento mais acelerado do que o emprego formal em diversos setores, o trabalho mediado por aplicativos se tornou não apenas uma alternativa, mas uma realidade econômica de escala urbana — capaz de redefinir as fronteiras entre emprego, renda e liberdade no Brasil contemporâneo.