Chegamos ao Dia Nacional do Caminhoneiro, 16 de setembro (oficializado pela Lei Federal nº 11.927/2009), e é preciso voltar os olhares para um grave problema: a escassez de motoristas de carga no Brasil tem se agravado, impactando diretamente a economia nacional. Segundo o relatório Panorama de Transportes de dezembro passado, a contratação desses profissionais foi negativa em 2024. Esse cenário não representa apenas um ano difícil, mas uma tendência alarmante que ameaça a continuidade da atividade, já que 60% dos produtos são transportados por rodovias, segundo a plataforma Motorista PX. Essa dependência do transporte rodoviário ilustra a importância crítica de uma força de trabalho robusta e bem treinada nesse setor.
Os números são preocupantes: entre 2015 e 2023, o Brasil perdeu 22% de seus motoristas habilitados - em estados como São Paulo, essa perda chega a 37% - e até 30% dos caminhoneiros devem se aposentar até 2026. “E não existe uma causa única para o problema, mas sim uma combinação de fatores que precisam ser abordados de forma abrangente e sistemática”, explica a CEO da Viktória Cargas Selly Sayed.
O envelhecimento dos profissionais, as condições desafiadoras e os altos custos para obtenção da CNH categoria E são elementos que contribuem significativamente para a formação desse cenário preocupante. Além disso, a concorrência com outros segmentos, como entregas urbanas e transporte por aplicativos, tem atraído muitos motoristas para opções que parecem mais interessantes e flexíveis, oferecendo horários mais convenientes e menos estressantes.
“Para evitar um possível colapso do transporte rodoviário no Brasil, é fundamental adotar uma abordagem estruturada e estratégica. A formação e capacitação de novos motoristas devem ser tratadas como prioridade. Isso inclui políticas públicas que subsidiem cursos técnicos e de habilitação profissional, além de iniciativas que ajudem a promover a entrada de jovens no mercado de transporte”, reforça a CEO.
Tornar a profissão mais atrativa também passa pela melhoria das condições de trabalho. Hoje, os motoristas enfrentam longas jornadas, insegurança e falta de infraestrutura básica em pontos de parada, o que contribui para o abandono da atividade. “Oferecer mais flexibilidade, remuneração justa, acesso a benefícios como assistência médica e programas de apoio psicológico é essencial”, diz Sayed. Criar e manter áreas de descanso seguras e adequadas em todo o território nacional não é apenas uma questão de conforto, mas uma necessidade que pode impactar diretamente a saúde e o bem-estar dos motoristas.
“A tecnologia também é uma aliada poderosa nesse contexto. A digitalização da logística, com o uso de ferramentas como telemetria, sistemas de rastreamento em tempo real e inteligência artificial, pode otimizar o gerenciamento de frotas e rotas, reduzir o tempo de deslocamento e minimizar o desgaste físico e mental dos caminhoneiros”, conta a especialista. “Muitas dessas soluções ainda ampliam a segurança no trânsito, contribuindo para a redução de acidentes e perdas. Além disso, a implementação de sistemas de monitoramento pode ajudar a identificar áreas de risco e melhorar a segurança nas estradas”, completa.
Há, inclusive, mais um ponto relevante para esta análise: a diversificação e ampliação dos demais modais de transporte. Segundo a CEO, “a dependência quase exclusiva do transporte rodoviário gera gargalos logísticos, aumento de custos e maior impacto ambiental. Investimentos em meios complementares, como a cabotagem (transporte marítimo de curta distância) e as ferrovias, devem ser priorizados e aliviar a pressão sobre as rodovias”. Portanto, essa ação traria ganhos não apenas econômicos, mas também sociais e ambientais, promovendo um sistema de transporte mais sustentável e eficiente.
Portanto, a solução para essa crise não é simples nem imediata. Exige articulação, com foco em inovação, valorização profissional e planejamento de longo prazo. Ao criar um ambiente mais justo, moderno e integrado, o país poderá garantir a continuidade de um setor vital para a economia e o abastecimento de toda a população. Cada passo nessa direção é um investimento no futuro do Brasil, onde a mobilidade e a logística desempenham papéis essenciais no desenvolvimento econômico e na qualidade de vida de seus cidadãos.