O turismo halal, que demanda adequações relacionadas ao lifestyle muçulmano com exigências específicas de acordo com cada país árabe na alimentação, vestimentas, rituais e infraestrutura do destino escolhido, é “o novo pré-sal” para o Brasil, disse Nicolino Bozzella Júnior, gerente de Relações Institucionais da Embratur durante evento na capital paulista.
Ele participava, junto a autoridades como Fazal Bahardeen, da Crescent Rating de Singapura, André Alliana, secretário municipal de Turismo de Foz do Iguaçu, Esra Coelho, da Turkish Airlines e Fernando Guinato, diretor na WTC Events Center e Sheraton São Paulo, de painel sobre turismo e entretenimento na 2ª edição do Global Halal Business Forum.
Nicolino está à frente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo junto a Marcelo Freixo desde 2022 e revelou que ambos creem que o turismo atual ultrapassa a noção de um mero tempo de ociosidade - ou apenas de descanso - para os que optam por conhecer os diferentes cenários nacionais.
“Crescemos 8% do ano passado para cá, sendo que o turismo representa quase 10% do nosso PIB, então nós não vemos outra oportunidade tão clara na criação e manutenção empregos, além de ser uma mola propulsora do nosso desenvolvimento de forma sustentável. Eu digo, inclusive, que ele é o nosso novo pré-sal, porque óleo e gás, por exemplo, são finitos, turismo é algo infinito”, afirmou Nicolino.
“Porém precisamos trabalhar mais para fortalecer nossa economia com o turismo e a ampliação do turismo halal é urgente. Desejamos receber mais visitantes que confiam na capacidade dos brasileiros de cumprir todos os pré-requisitos solicitados. Este é o nosso objetivo para os próximos anos”, adicionou.
André Coutinho, apresentador de um programa de viagens na BandNews, mediou o encontro e citou que 22 bilhões de reais foram deixados no Brasil por turistas internacionais no último ano e que esses números ainda são tímidos frente ao nosso potencial de crescimento, visto que o turismo halal movimenta cerca de 150 milhões de pessoas mundialmente.
“Se faz necessário adotar estratégias e ações além de um treinamento e uma infraestrutura de respeito, algo que São Paulo, que acaba de lançar o Guia de Turismo Amigável ao Muçulmano (que indica cerca de 400 locais que respeitam as normas Halal no Estado) e Foz do Iguaçu já estão realizando”, pontuou Coutinho.
Sobre Foz do Iguaçu, no Paraná, cujas Cataratas são consideradas uma das 7 Maravilhas Naturais do Mundo, André Alliana contou que desde 2020 já é uma das cidades mais procuradas pelos turistas halal na América Latina.
“Cerca de 20% de todos os empreendimentos de Foz são da comunidade islâmica, a segunda maior organização de muçulmanos na América Latina depois de São Paulo. Além de possuirmos o maior aeroporto internacional do sul do país, temos três aeroportos internacionais num raio de 50km e fazemos fronteiras de forma facilitada com três países”, disse.
“Então é natural que a cidade vá se tornando um destino que respeite as normas halal, porém também estamos sendo marcados pela cultura do bem-receber, treinando desde taxistas, até comerciantes, hotelaria, enfim, todos, a saber fornecer o que cada grupo de turistas com suas especificidades necessita”, relatou Alliana.
Neste sentido, Fernando Guinato, gerente do WTC e Sheraton analisou ser fundamental agradar, transmitir uma sensação ao hóspede de que ele está ´em sua própria casa´.
“Muitas vezes o brasileiro, que é um povo tão acolhedor, tem um pré-conceito de que será difícil chegar ao nível esperado pelos turistas halal. Mas aqui no nosso hotel orgulhosamente há cinco meses recebemos certificação. A cada vitória, ao sentir que estamos no caminho certo, arrancando um sorriso ou um agradecimento sincero de um hóspede halal, isso nos motiva a querer muito mais”.
Guinato alertou que é preciso que mais hotéis se qualifiquem para que este turismo cresça, pois o Brasil como um todo só tem a ganhar.
Para Esra Coelho, da Turkish Airlines, os costumes halal já estão mais próximos ou menos ´exóticos´ à população de modo geral. “Já voamos para quase 350 destinos pelo mundo e as pessoas que usam nossos serviços, seja na classe econômica ou executiva, todas têm acesso à alimentação halal”, contou.
“A maioria se surpreende com a qualidade, frescor, sabor da nossa comida. Aliás, ganhamos diversos prêmios pela nossa gastronomia a bordo. O que quero dizer é que as pessoas já provam o halal dentro do avião e isto está naturalizando esse movimento, porque elas experimentam algo até então desconhecido durante a viagem - e isso ajuda a diminuir os preconceitos citados pelo Sr Guinato”, refletiu a executiva da Turkish.
Fazal Bahardeen disse que o Brasil pode aprender com o exemplo de Singapura, considerado um dos destinos mais populares e bem-sucedidos entre países não islâmicos. “Nos auxiliou o fácil acesso, estamos rodeados de países muçulmanos geograficamente; também temos muitas linhas aéreas operando e bons aeroportos; nossa comunicação interna e externa é muito boa, ou seja, comunicamos muito que ali muçulmanos são bem-vindos; também quando falamos em certificação, acredito que não tenha outra cidade no mundo que possua tanta variedade em produtos halal, levamos isso realmente à sério; e por fim, citaria a inteligência artificial, a tecnologia nos auxilia de diversas formas facilitando a interação com diversos povos que nos visitam”, resumiu.
O Global Halal é patrocinado por BRF, Marfrig, Minerva Foods, Laila Travel, Turkish Airlines e Embratur, tem parceria da Apex Brasil, Câmara Islâmica de Comércio, Indústria e Agricultura, União das Câmaras Árabes e Liga Árabe, e apoio da Halal Academy.
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