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SIMEA 2023 aponta Brasil como polo exportador de tecnologias de produtos e de sistemas
Mercado
Publicado em 22/08/2023

Com o macrotema “O Brasil e o futuro sustentável da mobilidade", a 30ª edição do SIMEA - Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, teve recorde de participação, com 900 inscrições, e foi considerada histórica pelo presidente da AEA - Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Marcus Vinicius Aguiar.
Ao comentar que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, Aguiar destacou a capacidade e a criatividade da engenharia automotiva brasileira: “Que possamos, a partir de nossa competência, exportar tecnologias de produtos e de sistemas”, pontuou.
A mesma linha de raciocínio foi adotada pelos demais participantes da solenidade de abertura, realizada na manhã da última quarta-feira, 16 de agosto, no Novotel Center Norte, na capital paulista. Na ocasião, Paulo Jorge Antonio, presidente da 30ª edição, fez questão de atribuir o sucesso do evento a todos os envolvidos, citando a comissão organizadora, palestrantes, mediadores e participantes.
O presidente de honra do SIMEA 2023, Gastón Diaz Perez, foi enfático ao dizer que no âmbito do debate sobre soluções rumo à descarbonização, “o nosso país tem um baralho completo, enquanto alguns países têm apenas uma carta. Não tem lugar melhor para falar em mobilidade sustentável do que no Brasil”, comentou, citando tecnologias variadas, dentre as quais o flex com etanol, o biodiesel , o biogás, o hidrogênio. “Temos tudo para nos tornarmos um dos maiores produtores de hidrogênio do mundo”.
O presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, comentou sobre as condições geográficas do País, que favorecem o uso de biocombustíveis renováveis. Na sua avaliação, o Brasil terá protagonismo global no contexto da mobilidade sustentável.Assim como o presidente da AEA, também o da Anfavea, Márcio de Lima Leite, fez questão de ressaltar a importância da engenharia brasileira, hoje reconhecida mundialmente. Segundo ele, o setor automotivo é responsável por 38% de todos os investimentos em P&D no país.
“Os elétricos são importantes, mas temos que defender todos os caminhos”, disse Lima Leite, lembrando que em outubro a Anfavea realizará evento conjunto com a OICA, Organização Internacional de Fabricantes de Automóveis, para discutir a descarbonização das Américas.
João Henrique Garbin de Oliveira, presidente Abeifa - Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, lembrou que a entidade teve e tem papel importante na conexão do Brasil com o mundo global. “O híbrido, por exemplo, começou como veículo importado e agora temos montadoras produzindo localmente”.
 
As contribuições governamentais
Duas autoridades participaram da solenidade de abertura do SIMEA 2023. Juliana Cardoso, secretária executiva de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, aproveitou o evento para enfatizar a importância do setor automotivo para o Estado, destacando que das 27 empresas automotivas, 23 estão em São Paulo.
“Podemos ter grande protagonismo no processo de transição energética pelo qual passa o setor automotivo”, comentou a secretária, citando programas como o Pro-Veículo Verde, que incentiva investimento em veículos menos poluentes, e o da primeira estação experimental de abastecimento de hidrogênio renovável a partir de etanol do mundo, que tem por sede a Cidade Universitária da USP.
Marlon Arraes, diretor do Departamento de Biocombustíveis, do Ministério das Minas e Energia, mostrou a ampla gama de soluções alternativas existentes no Brasil, informando que a partir do uso do etanol houve uma economia de 2 bilhões de barris de petróleo no País. “Na transição energética, temos condições de nos tornarmos exportador de soluções, visto que vai demorar muito para ter frota totalmente eletrificada no mundo. Podemos contribuir para uma descarbonização mais barata, sem onerar o consumidor com custos mais elevados de tecnologias novas”, argumentou.
 
Painel 1, as tendências e políticas públicas
A sessão de abertura foi seguida do Painel 1, que teve por tema “Tendências (cenário) e políticas públicas”. Além de Marlon Arraes, também participaram os presidentes da Anfavea e do Sindipeças e, ao final das palestras, teve um debate mediado por Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting.
"Por que não criarmos competências brasileiras que possam ser exportadas?", questionou Lima Leite, da Anfavea. Ele voltou a defender a adoção de medidas de conscientização para incentivar o uso do etanol no Brasil. “Se todos os veículos flex rodassem com etanol, nosso País teria o equivalente a 8 milhões de veículos elétricos em circulação atualmente”.
Marlon Arraes, por sua vez, aproveitou para mostrar as políticas de incentivo à transição energética existentes em outros países e as que estão em curso no Brasil. Informou que no próximo mês o governo abrirá consulta pública para o RenovaBio, que visa expandir a produção de biocombustíveis, fundamentada na previsibilidade e sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Cláudio Sahad, do Sindipeças, defendeu a necessidade de o Brasil definir políticas públicas que apontem para os rumos da sustentabilidade veicular e estimule investimentos em produção de veículos eletrificados.
“Em paralelo às novas tecnologias, o Brasil pode se tornar um centro produtivo de motores e veículos a combustão e um grande exportador de tecnologia. Estamos falando com o governo sobre esse tema”, informou Sahad.
Na parte da tarde do dia 16, houve duas palestras especiais. Martin Krueger, sênior vice-presidente de Engenharia Veicular e Gestão Energética, da Bosch , falou sobre “Mobility for Today and Tomorrow – Meeting Climate Targets and Exciting Customers”. O gerente-geral de Marketing da Petrobras, Bernardo Noronha Lemos, por sua vez, abordou o tema “Ciclo Diesel – Trajetória para uma Transição Energética Justa”.
 
Painel 2, o futuro da mobilidade
No segundo dia do SIMEA 2023, 17 de agosto, o Painel 2 discutiu “O futuro da mobilidade sustentável” a partir de três palestras: “Tendências tecnológicas na visão da AEA”, com Everton Lopes, vice-presidente da AEA, “RenovaBio e o Combustível do Futuro”, com Marlon Arraes, do Ministério das Minas e Energia, e “Estudo Mobilidade Urbana no Brasil (Modal/ Infraestrutura)”, com Daniela Swiatek , da Fundação Getúlio Vargas.
Ao final das palestras, houve debate com mediação do jornalista Fernando Calmon. Na ocasião, Everton Lopes lembrou que os veículos flex representam hoje 83% da frota circulante no País, só que a maioria dos motoristas (cerca de 70%) opta pela gasolina na hora de abastecer. Por isso, o setor automotivo e o governo estudam medidas de incentivos ao uso do etanol.
"O único caminho é a vantagem financeira", comentou Lopes. "Entre as ideias em debate é ter uma bonificação para descontos em abastecimentos futuros no caso dos usuários que só utilizam etanol e taxas menores de impostos para os veículos que rodem apenas com o biocombustível".
O diretor do Departamento de Biocombustíveis, do Ministério das Minas e Energia, mostrou o atual estágio dos programas do governo, dentre os quais o RenovaBio e o Combustível do Futuro.
Com relação à proposta relativa ao E30, que seria o aumento da proporção do etanol na gasolina de 27% para 30%, o representante do MME disse que vai ter um grupo de trabalho para constatar a viabilidade técnica da medida antes de sua implementação.
Daniela Swiatek, por sua vez, apresentou estudo sobre mobilidade urbana em grandes cidades. O projeto Big Data, que estudou a mobilidade em quatro grandes cidades da América do Sul e uma do México, será implementado em São Paulo no dia 1º de setembro.
"Política pública não pode ser feita no achismo e, por isso, definimos um projeto com base em evidências. As prefeituras precisam de ajuda da iniciativa privada, pois só assim haverá avanços em termos de mobilidade sustentável", comentou Daniela.
A palestra especial do dia 17 apresentou o tema “Estratégia de apoio financeiro à descarbonização da cadeia automotiva”, de Luiz Brant, coordenador de Inovação da ABGI Brasil.

Os caminhos para o Brasil
Ainda na tarde do segundo dia do SIMEA 2023, houve uma mesa redonda para debater os caminhos/rotas para o Brasil. Dela participaram Pedro Mello Lombardi, da Aneel, Marcelo Mendonça, da Abegas, Izabel Ramos, da Petrobras, Camilo Adas, da Be8 Energy, Evandro Gussi, da Única, e Bernd dos Santos Mayer, da Giz Brasil. O mediador foi o jornalista Joel Leite, da Agência Autoinforme.
Ligada ao governo da Alemanha, a Giz Brasil investiu € 34 milhões no Brasil para o desenvolvimento do hidrogênio verde. O projeto é coordenado por Mayer, que informou sobre a inauguração agora em agosto de laboratório no Rio de Janeiro para atender ao segmento de bicicletas usadas em delivery. Dois novos laboratórios serão inaugurados em breve: Florianópolis e Itajubá.
Coube à representante da Petrobras fazer uma analogia da questão energética, similar à do baralho apresentada por Gáston Perez, com o tradicional jogo Lego. Izabel comentou que cada país ou região recebe um caixa com peças que têm a ver com suas realidades e em quantidades diferentes. “A missão pode ser a mesma, a de montar uma casa. Mas ao final serão casas diferentes”, exemplificou, lembrando que o Brasil é privilegiado e, por isso, tem mais peças para enfrentar o jogo da descarbonização.
Na avalição de Mendonça, diretor de estratégia e mercado da Abegas - Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, é indiscutível a participação do gás natural e o biometano na transição energética brasileira. No primeiro caso, o uso já é expressivo nos veículos leves e agora deve ser expandido para os pesados.
Gussi, presidente e CEO da Única - União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, também deixou claro que não há sentido de o Brasil escolher uma rota única: “É fundamental que todos os setores trabalhem em conjunto”.
A posição é a mesma manifestada por Lombardi, gerente de distribuição da Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, que disse ser imprescindível a união de todos os envolvidos para que haja o adequado desenvolvimento das novas tecnologias.
Com relação ao possível crescimento da frota de veículos elétricos, ele disse que o setor está programado para efetuar investimentos em expansão e com certeza conseguirá oferecer a energia necessária a ser demandada pelo setor automotivo.
No que diz respeito à diversidade, a Be8 Energy é um exemplo de iniciativa privada bem sucedida por iniciativas de produção de biodiesel e projetos ligados a HVO para pesados, SAF para aviação e etanol. Adas, superintendente de estratégia e novos negócios, indicou, ao comparar a edição anterior do SIMEA com a 30ª edição, que houve um avanço importante e rápido nas discussões do uso da matriz energética pelo Brasil.
A sessão de encerramento do simpósio foi conduzida por Marcus Vinicius Aguiar, presidente da AEA, e por Gastón Diaz Perez, presidente de honra do Simea 2023. Ambos comemoraram o sucesso do Simpósio, que contou com 60 trabalhos técnicos que certamente trarão novos avanços tecnológicos ao setor automotivo.

Foto: Divulgação AEA

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