“A idade da pedra não acabou por falta de pedra. A idade do petróleo irá acabar muito antes que o mundo fique sem petróleo”. Foi com essa frase impactante - de autoria do Sheik Ahmed Zaki Yamani, ministro do Petróleo da Arábia Saudita entre 1962 e 1986 -, que o gerente de Engenharia de Processos da Reunion Engenharia, Murilo Borges, iniciou sua apresentação “Hidrogênio Verde – Perspectivas e Possibilidades”, durante o Seminário STAB Industrial na 29ª Fenasucro & Agrocana, realizada em Sertãozinho/SP.
“Uma coisa não precisa acabar para começarmos a desenvolver outra. Se o mercado está pedindo soluções sustentáveis, é para lá que nós vamos”, indicou.
O tema tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, especialmente nos últimos dois anos. No início deste mês, inclusive, o governo do Estado de São Paulo reforçou seu compromisso de estar na vanguarda da transição energética e do desenvolvimento de novas tecnologias de energia verde com o lançamento da primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol do mundo. A iniciativa é uma parceria da USP com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e empresas privadas do segmento.
“Nesse processo de descarbonização que estamos passando, o hidrogênio verde se apresenta como uma alternativa energética bastante viável”, pontuou Murilo.
Por que o Brasil está no centro dessa tendência?
Um estudo realizado em 2020, projetando quanto seria o custo de produção de hidrogênio em 2030, colocou o país no topo do ranking com o menor custo. Borges explicou que existem diferentes formas de produzir o hidrogênio. Uma delas é pela eletrólise da água. Mas, para isso, é preciso muita água e eletricidade.
No setor sucroenergético, as principais formas de produção de hidrogênio verde são pela reforma do metano, biometano, do etanol e do bagaço da cana-de-açúcar. A versatilidade se faz presente, ainda, na aplicação desse vetor energético. Majoritariamente empregado nas próprias usinas, atualmente, o hidrogênio verde tem um enorme potencial de mercado a ser desenvolvido, como no ramo automotivo, por exemplo. Outra vantagem, no caso do etanol, é a questão da distribuição nos postos de combustíveis.
“Esse é um caminho sem volta, que trará benefícios a todos os envolvidos, inclusive o consumidor final. A demanda só tende a aumentar nos próximos anos”, enfatizou. O desafio, agora, segundo Borges, é alinhar o desenvolvimento tecnológico com a viabilidade econômica, além de encontrar métodos seguros de armazenamento e de transporte.
Etanol de segunda geração
O Brasil também é líder mundial em produção de etanol de segunda geração, o E2G. O biocombustível é produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Ou seja, com uma matéria-prima de baixo impacto ambiental, já que é feito com os resíduos da fabricação do etanol comum e do açúcar. É o combustível com a menor pegada de carbono do mundo quando comparado à gasolina.
Durante a 2ª edição do Visão Agro Talk, o diretor corporativo de Renováveis da Raízen, Luciano Zamberlan, palestrou sobre o tema “Desafios e Oportunidades na Produção do E2G”. A fabricação desse biocombustível tem tecnologia proprietária da companhia e o executivo anunciou a construção de 20 plantas de E2G acopladas aos seus bioparques até 2030. A expansão terá um investimento total de R$ 24 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão por planta.
De acordo com Zamberlan, o objetivo da empresa é produzir mais etanol sem precisar plantar mais cana-de-açúcar e, ainda, reduzir a pegada de carbono. Afinal, o E2G é produzido com o reaproveitamento de recursos, minimizando desperdícios e impactos ambientais.
“É uma alternativa segura, rentável e replicável. Assumimos o desafio de produzir o E2G nos últimos 10 anos e, até hoje, teve uma evolução bastante expressiva. Com as 20 plantas teremos a capacidade de produzir 1,6 bilhão de litros de etanol de segunda geração”, destacou Zamberlan.
Foto: Reprodução