Texto: Marcus Silva*
No último dia 18 de maio, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou a publicação do decreto 11.075, de 19/5/22, que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O documento tem como base a Política Nacional de Mudança do Clima. A notícia foi dada durante o Congresso Mercado Global de Carbono – Descarbonização & Investimentos Verdes.
O decreto que traz, entre outros pontos, o conceito de crédito de metano, a possibilidade do registro da pegada de carbono de processos e atividades, o carbono de vegetação nativa, o carbono do solo (fixado durante o processo produtivo), e o carbono azul (presente nas áreas marinhas e fluviais), é um passo importante para o Brasil.
Vale destacar que, no caso do hidrogênio verde, um dos grandes desafios do Brasil será transmitir, àqueles que tenham interesse nessa área, segurança fiscal, regulatória e institucional, para que se sintam confortáveis em investir no país.
No entanto, trata-se de um desafio cujos ganhos sustentáveis serão inúmeros. Isso porque, ao contrário dos combustíveis à base de carbono, o hidrogênio verde não produz subprodutos prejudiciais à atmosfera durante a combustão -- somente energia, calor e água limpa são produzidos quando o hidrogênio é combinado com o oxigênio em uma célula de combustível.
Contudo, embora entendamos que o hidrogênio verde é o nosso farol, em paralelo, consideramos que é preciso investir também em tecnologias que possibilitarão a transição para adoção do hidrogênio como combustível em diversos setores. No momento damos ênfase às aplicações de oxi-combustão para melhorar a eficiência dos processos de combustão e na captura, sequestro e uso do dióxido de carbono (CO2).
O processo de captura de CO2 é um meio de reaproveitar o gás carbônico produzido em diversas indústrias de forma que ele seja ‘capturado’ e não seja lançado à atmosfera e ainda possa ser reaproveitado para outros fins. No caso das empresas de óleo e gás, por exemplo, o CO2 é reutilizado para ajudar a retirar o petróleo de jazidas. Quando injetamos o gás carbônico no poço, ele aumenta a pressão ali, o que torna mais fácil a extração, ao mesmo tempo em que é ‘aprisionado’ embaixo da terra, com um saldo positivo, em razão da grande quantidade de gás reutilizada.
Por acreditarmos nos gases como soluções sustentáveis ao planeta, aguardamos o andamento pós-decreto para unir forças aos líderes desse mercado que definirá o potencial do Brasil na exportação do hidrogênio verde.
Gerar um futuro mais limpo envolve experiência, investimento e inovação em escala mundial. O Brasil tem a tecnologia e a ambição de trazer a economia do hidrogênio à escala. Com a convergência de interesses comuns de todos que participarão como atores desse novo cenário, creio que poderemos ter algo prático em andamento nos próximos anos, com foco no cumprimento das metas zero carbono.
*Marcus Silva é Gerente Geral da Air Products Brasil e Argentina, empresa que tem 250 projetos de estações de abastecimento de hidrogênio, em 20 países, e executa no momento dois dos maiores projetos de hidrogênio verde no mundo, sendo um deles na Arábia Saudita. Marcus Silva foi um dos palestrantes do Congresso Mercado Global de Carbono - Descarbonização & Investimentos Verdes.
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