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A escalada de mortes de ciclistas tem que produzir mudanças efetivas
Mobilidade
Publicado em 09/03/2022

Os recentes casos de atropelamentos a ciclistas, na cidade de São Paulo e região metropolitana, chocaram toda a comunidade de ciclistas tanto pelo curto espaço de tempo em que eles ocorreram, quanto pela gravidade e pelos padrões dos crimes.
Motoristas embriagados, em alta velocidade, atentando contra tudo e todos à sua volta. Crimes com esses padrões não são “fatalidades”, “acidentes”, são sintomas de um sistema que banaliza a vida e que é reforçado pela ausência de fiscalização, certeza de impunidade e pela infraestrutura urbana que não protege quem mais ela deveria proteger.
Apenas na cidade de São Paulo as mortes de ciclistas quase dobraram entre 2018 e 2021, saltando de 23 para 43 vidas ceifadas no ano, segundo dados do Infosiga do Governo de São Paulo. Números de envergonhar e indignar qualquer pessoa.
A indignação coletiva deveria nos impulsionar para mudanças efetivas na sociedade e nas políticas públicas, ou então sistematicamente continuaremos lamentando a morte dos nossos amigos e parentes ciclistas. Nenhuma morte no trânsito é aceitável, pois todas – sem exceção – poderiam ser evitadas. Mas como podemos evitar mortes de ciclistas no trânsito? Com vontade política e algumas medidas eficazes de segurança viária que aqui buscamos listar como exemplos.
Importante destacar que a segurança viária é uma ciência conhecida no mundo todo. Não é um discurso, uma retórica, algo subjetivo e intangível. É uma ciência aplicada com técnicas, infraestruturas e bastante conhecimento acumulado. Ou seja, há décadas já se sabe o que funciona e não funciona e o que deve ser feito para salvar vidas no trânsito. Há bons exemplos no mundo todo, inclusive no Brasil, inclusive em São Paulo.

Por esta razão destacamos quatro medidas fundamentais para salvar a vida de ciclistas no trânsito. Tais medidas se aplicam ao ambiente urbano e rural, para vias administradas por prefeituras, governos estaduais ou por empresas privadas (concessionárias). São elas:

1) Infraestrutura segregada e adequada para os diferentes usos de bicicleta
Nos centros urbanos, ciclovias e ciclofaixas salvam vidas e são indicadas para os locais com tráfego motorizado mais intenso. Nas rodovias, ciclovias largas e segregadas fisicamente poderiam atender tanto trabalhadores quanto ciclistas em treino e cicloturistas. Ainda, muitas cidades têm adotado as áreas de proteção ao ciclismo de competição, ofertando áreas seguras para a prática do ciclismo de estrada. Todas estas estruturas dedicadas são indicadas e, além de salvar vidas, promovem a cultura da bicicleta.

2) Redução dos limites de velocidade em todas as vias (urbanas e rurais)
Tanto nos centros urbanos, quanto nas estradas e rodovias, a velocidade máxima deve ser compatível com a vida. Nas cidades, vias com limites acima de 40 km/h atentam contra a vida e já não deveriam existir. Nas estradas e rodovias, quando não houver uma área segregada para ciclistas se deslocarem ou treinarem, os limites de velocidade devem ser drasticamente reduzidos para que a via possa ser compartilhada. Sinalização intensa de atenção e de priorização ao tráfego de ciclistas deve ser instalada também.

3) Fiscalização intensa e punição exemplar a maus motoristas
Para que os limites de velocidade sejam respeitados e o compartilhamento da via possa acontecer de maneira segura, a fiscalização sobre motoristas deve ser intensa e randomizada. Isto é, condutores de automóveis, vans, ônibus e caminhões têm que sentir que seu comportamento no trânsito está sendo monitorado e fiscalizado de perto. E que uma infração que atente contra a vida das pessoas poderá significar multas e sanções pesadas. Nossas polícias, o Ministério Público e o sistema judiciário devem assumir responsabilidade também para os casos de homicídio no trânsito, punindo exemplarmente para que a impunidade deixe de ser a regra.

4) Redesenho viário
A velocidade de projeto das vias públicas – nas cidades, estradas e rodovias – favorece as altas velocidades e não a segurança viária. Por esta razão é imperativo que se instale elementos que alterem a configuração viária visando acalmar o trânsito. Medidas como a instalação de rotatórias, curvas em S, lombadas, ampliação das esquinas para alterar o ângulo na conversão dos veículos, sinalização de solo e vertical, arborização mais próxima do leito carroçável, estreitamento das faixas de rolamento, são algumas medidas já experimentadas no mundo todo e com resultados extremamente positivos para a segurança viária.
Portanto, se estas medidas não são executadas ou levadas a sério, é por falta de interesse de gestores e tomadores de decisão e por força de um sistema que insiste em passar pano para mais de 40 mil homicídios no trânsito todos os anos. Chega de naturalizar tanta violência! Chega de mortes no trânsito!

Aliança Bike – Associação Brasileira do Setor de Bicicletas

Foto: Divulgação

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