Texto: Luis Otávio Matias*
Depois de praticamente dois anos de pandemia, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação. Embora algumas áreas produtivas do país vejam uma ligeira melhora pós-pandêmica conforme a vacinação segue avançando, a maior parte do Brasil ainda sofre com problemas que envolvem a demanda dos consumidores, mas também o fluxo de componentes que não chega por parte dos fornecedores. Um desses setores é o mercado de veículos, principalmente os zero quilômetros.
E o impacto desse período de pausa pode ser sentido não apenas em empresas que se relacionam diretamente com ele. Atualmente, o setor automotivo brasileiro gera mais de 420 mil empregos diretos e é responsável por nada menos que 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro. Não à toa, vê-lo parado gera preocupação e consequências graves em outras áreas da economia nacional.
Durante a pandemia de covid-19, o setor não apenas parou de avançar, mas começou a regredir e apresentou o maior recuo de crescimento desde 2015. A queda atingiu todos os tipos de negócios que envolvem veículos: financiamentos, venda de carros novos e venda de carros usados. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e a B3, em 2020 houve redução de 9,6%, 26,2% e 13,7% em cada uma dessas modalidades, respectivamente.
A falta de componentes dos mais variados tipos foi uma das responsáveis por esses resultados. A crise de chips eletrônicos e a crise logística mundial dificultaram significativamente a produção e distribuição de veículos zero quilômetro ao longo do último ano. Mas, a partir do quarto trimestre de 2020, sinais de uma melhora ainda lenta começaram a aparecer.
É claro que, quando o problema é grande, qualquer reação mínima será um bom resultado, mas a percepção é de que há alguma recuperação do setor neste ano. Em todo o primeiro semestre de 2021, os carros zero registraram um aumento de 33%, enquanto os financiamentos de veículos também subiram 26%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda não se registra um crescimento significativo, mas esses são pequenos indícios de que poderemos avançar no futuro.
Se o Brasil ainda depende muito do agronegócio, outras áreas da economia se mostram igualmente vitais para o seu desenvolvimento. Como o país privilegia estruturas de transporte para veículos particulares, algumas novas opções podem ser uma saída para alavancar de uma vez por todas o crescimento do setor. Uma delas é o mercado de veículos por aluguel e por assinatura.
Entre abril e maio do ano passado foram registrados 7,7 milhões de acessos a 152 sites que oferecem esses serviços. Por sua vez, o mesmo período deste ano mostrou 12 milhões de acessos a esses mesmos sites. Um interesse que cresce à medida que o serviço começa a chegar a mais localidades, com maior número de empresas trabalhando a modalidade e maior quantidade de planos disponíveis para diferentes perfis de consumidores.
Embora a retomada ainda seja relativamente tímida, em comparação ao tamanho do setor e ao que ele já se mostrou capaz de movimentar em anos anteriores à pandemia, tendências como essa podem ser uma saída viável para que, em breve, concessionárias, montadoras, locadoras e outros players possam realmente voltar a ver seus negócios crescerem. Enquanto isso não acontece, recursos como a digitalização do processo de compra e até mesmo de financiamento de veículos continuam ganhando força com todos os públicos desse mercado.
Outro fator que merece um olhar atento é o da mudança no tipo de carro que os brasileiros estão dispostos a adquirir daqui em diante. Com as discussões a respeito das mudanças climáticas fervilhando em todo o mundo, espera-se que, cada vez mais, os usuários brasileiros comecem a procurar modelos mais amigáveis com o meio ambiente, por exemplo os veículos elétricos ou híbridos, em detrimento daqueles que usam combustíveis tradicionais, mais agressivos à natureza.
Assim como acontece com todos os setores da economia, será preciso compreender os anseios do mercado e recalibrar as estratégias para, somente então, acelerar rumo a novas linhas de chegada.
*Luis Otávio Matias é vice-presidente da Tecnobank